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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

COTAS

Nomes e Sobrenomes por MAURICIO PESTANA
O final de 2008 marcou a luta pela igualdade entre brancos e negros no
Maurício Pestana é presidente do Conselho Editorial da RAÇA BRASIL pestana.raca@escala.com.br
www.mauriciopestana.com.br
Brasil. A Câmara Federal aprovou lei que cria cotas nas universidades federais e escolas técnicas. Principal reivindicação dos movimentos negros na atualidade.histórico desta luta se caracterizou pelo posicionamento dos que sempre estiveram contra qualquer tipo de reparação em relação a nós negros, como os antigos donos de escravos, personificados nos dias atuais na bancada ruralista do Congresso.
Também se posicionaram contrários setores que antes se colocavam "neutros" e, em alguns momentos, até do nosso lado, caso da imprensa brasileira que, em bloco, durante o período das discussões, mostrou-se contrária às cotas. Para se ter uma idéia, na semana da aprovação na Câmara, os jornais O Globo, O Estado de São Paulo e Folha de S. Paulo trouxeram matérias questionando a medida, inclusive em editoriais.
Por último, intelectuais e políticos, que sempre utilizaram do nosso discurso e de nossa luta em projetos pessoais, na hora mais acirrada da luta se posicionaram avessos. Se por um lado foi triste, descobrirmos o tamanho e a força dos adversários, por outro, pela primeira vez em nossa história após a abolição, podemos identificar, por nomes e sobrenomes, os contrários aos avanços do negro no Brasil, como: Demétrio Magnoli, Ivone Maggie, Peter Fry e Ali Kamel e outros que assumiram publicamente suas posições, nomes estranhos para o palavreado brasileiro (certamente nenhum descendente de negros).
No parlamento, vários deputados como o condecorado com a medalha Zumbi dos Palmares, Paulo Renato (PSDB-SP), tiveram posições um tanto quanto decepcionantes. Ele foi o autor da mudança no texto que previa destinação de 50% das vagas no vestibular para alunos de escolas públicas, seguindo critérios de raça, ou seja, essas vagas seriam destinadas a estudantes negros, pardos e índios, de acordo com a proporção dessas populações em cada estado, com base no Censo 2000. "O deputado introduziu o ingrediente de renda, que, além de desorganizar todo o texto, colocou um condicionante. Os critérios de renda e raça já estavam contemplados no meu projeto original" declarou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Decepção maior causou o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) partido que tem uma das organizações mais combativas do movimento negro, a UNEGRO. Aldo, no dia 20 de novembro, em entrevista ao Jornal Nacional, utilizou o argumento preferido das elites contrárias às cotas ao dizer que "o problema só irá se resolver quando melhorar a qualidade da escola pública". Enquanto isso, esperemos fora das universidades por, quem sabe, mais 120 anos!
Aprovadas ou não - uma vez que o projeto se encontra no Senado - as cotas no Brasil já deixaram o legado que foi obrigar setores e pessoas, que antes se escondiam atrás da falsa democracia racial brasileira, a se expor. Em um país onde pesquisas demonstram que 91% da população apontam a existência do racismo e quase a mesma parcela declara que nunca discriminou, esses posicionamentos podem ser encarados como um avanço na luta contra um adversário antes invisível.
Enquanto isso, a sociedade, muito mais rápida que o Congresso, vai avançando. Hoje, no Brasil, mais de 70 universidades já contam com programas de Ação Afirmativa, várias empresas, inclusive do setor bancário e multinacionais, apostam nessas ações, todas as pesquisas apontam que a maioria do povo brasileiro é a favor das cotas, talvez porque este mesmo povo saiba que as elites no país podem não ser negras, mas a maioria da população é mesmo afro-descendente.

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