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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Valdeci Oliveira* | PT.

Durante aproximadamente 300 anos, ser negro no Brasil significou oficialmente ser condenado - sem direito à defesa - à subjugação, à opressão e a um conjunto permanente de violências morais, físicas e psicológicas. Pelo regime escravocrata, que vigorou no país entre o período colonial e o final do Império, o povo negro foi transformado legalmente em propriedade privada dos grandes fazendeiros do país e eram obrigados a morar confinados em alojamentos rústicos. Nas senzalas, os negros dormiam diretamente no chão ou sob palhas. Eles só podiam sair dali para duas atividades: trabalhar ou apanhar. Apanhar de chicote aliás era algo tão rotineiro como trabalhar para eles. Em frente a cada senzala, havia um tronco, o simbólico pelourinho, que era utilizado para amarrar os escravos e surrá-los diante da constatação, pelos senhores de engenho, de qualquer discordância ou desobediência. Para exemplar o coletivo, os açoites ocorriam diante dos olhos de todos os demais trabalhadores negros da comunidade, que não tinham direito nenhum a não ser trabalhar em jornadas desumanas sem reclamar. O líder negro Zumbi, que ousou liderar uma rebelião contra a barbárie, foi perseguido, assassinado no dia 20 de novembro de 1695 e teve a sua cabeça exposta em praça pública como sinal de terror.
É dolorido, é revoltante, mas é imperioso resgatar que esta cruel realidade correspondia ao dia a dia do povo negro no Brasil nos idos dos anos 1600, 1700 e 1800. No nosso Brasil, na nossa terra. A saudada abolição da escravatura, ocorrida com a assinatura da Lei Áurea em 1888 pela Princesa Isabel, só resolveu em parte a estigmatização dos negros brasileiros. Pra ser condizente com a realidade dos fatos, a Lei Áurea acabou com a escravidão de fato, mas não com a escravidão moderna, que de forma subliminar, indireta ou “às sombras” subjuga os afrodescendentes até os dias atuais. Por termos passado por três séculos de escravidão oficial e tantas outras décadas de opressão informal, é que hoje, mesmo com o começar de diversas políticas de igualdade e de ações afirmativas, como o transformador Programa Universidade para Todos (ProUni) - que reserva cotas para estudantes negros e indígenas -, ainda vislumbramos um número inferior ao ideal de negros nas escolas, nas universidades e no mercado de trabalho. Para revertemos de vez este quadro, que gradualmente vem mudando para melhor, é que anualmente comemoramos com vigor a Semana da Consciência Negra, que neste ano foi encerrada na última terça-feira. As atividades da semana em todo país, além de resgatar a trajetória de resistência dos negros no Brasil, reforçam aquilo que o preconceito arraigado em alguns ainda impede de ser observado: as políticas afirmativas, implantadas há pouco tempo no país, mas já responsáveis por resultados positivos, fazem bem para o conjunto da sociedade e não só para os negros. Que país ou nação vai se desenvolver de forma global mantendo excluída a maior parte do seu povo, que é justamente o povo negro? Que país vai ter uma educação melhor marginalizando o acesso da maior parte do seu povo às escolas, aos cursos técnicos e universidades? A segregação e o apartheid, mesmo que não institucionalizados como na África do Sul, jamais enriquecerão um povo seja moralmente, seja materialmente.
Portanto, todo apoio às cotas e as políticas afirmativas e de inclusão e igualdade social. Saímos do tempo da chibata e do pelourinho e chegamos à época do ProUni, mas ainda temos muitas ações para fazer e muitos preconceitos a quebrar até conquistarmos uma sociedade que não valore seres humanos por serem brancos, negros ou pardos. Assim como Martin Luther King sonhou, todos temos que sonhar e buscar ver nossos filhos julgados por sua personalidade e não pela cor da sua pele.
*deputado estadual
 
FONTE: Canguçu em foco
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